Planejamento de Içamento e movimentação de carga

Outros aspectos, evidentemente, podem gerar dúvidas na ocasião de um planejamento de içamento e movimentação de carga. Por exemplo: Qual a documentação e a estrutura necessária; quem está qualificado para responder pelo plano; qual o suporte que pode ser obtido de fornecedores; quais os softwares disponíveis e mais utilizados. São estas as questões que nos propomos a discutir e eventualmente esclarecer abaixo.

Qual a documentação necessária?

Nesse caso, quando se fala em documentação, deve-se considerar tanto as autorizações legais quanto as informações técnicas do equipamento ou equipamentos que serão utilizados no içamento da carga. Fiquemos, por enquanto, na documentação necessária obrigatória por lei. O interessante nesse ponto é que ainda há relativo desconhecimento em relação à exigência de uma ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) providência esta que é necessária até para troca de piso de um apartamento, por exemplo. Quanto mais em uma operação de içamento.

E a Lei nº 6.496/1977 é clara em relação a isso: “Para que um estudo, planejamento ou especificação tenha caráter legal, é necessária a abertura de uma Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), junto ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA)”. A lei diz mais: que caberá ao CONFEA, o conselho dos CREAs em nível federal, em resolução própria, definir o profissional habilitado para assinar essa ART. Essa resolução é anterior (nº 218, de 29 de junho 1973) e define 18 atividades relacionadas às diferentes modalidades profissionais.

E o entendimento geral é que o Plano de Rigging pode ser enquadrado na atividade n°2 (estudo, planejamento, projeto e especificação). E ainda que, por esta atividade ser relacionada a equipamento mecânico (guindaste), cabe ao engenheiro mecânico ou de produção/industrial oriundo da mecânica essa ART, ficando aos profissionais de outras modalidades da engenharia a solicitação de uma análise do CREA para acréscimo desta atribuição embasado em sua grade curricular.

Resolvida a questão legal, o profissional ou equipe responsável pelo Plano de Rigging pode concentrar-se em outro tipo de documentação igualmente necessária. A começar pelos desenhos das cargas contendo peso, dimensões, posição do centro de gravidade e pontos de içamento, dentre outros. No caso dos guindastes, são as tabelas de carga, desenhos dimensionais, pressão exercida no solo pelas patolas/esteiras, velocidade admissível de vento. Informações relativas ao cliente seriam, por exemplo, resistência do solo, interferências visíveis e invisíveis do site ou outras condições específicas.

Qual a estrutura necessária?

Para que uma empresa possa desenvolver, por conta própria, o Plano de Rigging, ela deve contar, claro, com recursos humanos e materiais. “Primeiramente, com pessoas capacitadas e experientes, pois a experiência neste segmento é de extrema importância. Depois, softwares atualizados dos equipamentos, além do Autocad”, diz Camilo Filho.

Leonardo Scalabrini complementa: “um profissional com treinamento de capacitação de Rigger, de nível Técnico ou Superior em Engenharia. O computador com software CAD é indispensável. Também é interessante possuir um software de elaboração do Plano de Rigging, o que agiliza bem o processo. Um outro profissional, para realização de visitas técnicas e medições, também pode ser necessário”.

“Além de pessoal habilitado e certificado, é importante também que a equipe esteja bem motivada e seja bem remunerada”, diz Diego Silva. Ele ressalta também a importância “de um local adequado, limpo, organizado com software para desenvolvimento dos cálculos e reunião das equipes de içamento”.

Qual a qualificação necessária?

O Plano de Rigging, em princípio, deve ser elaborado por engenheiro ou técnico com formação mecânica ou civil, devidamente registrados no CREA. “Profissionais que tenham recebido o treinamento adequado para elaboração de Plano de Rigging e os mesmos devem ser legalmente habilitados, conforme as atribuições do CREA e devem ser acompanhados por uma ART”, diz Alexandre Vaccari. “É o Rigger. Tanto que cada Plano de Rigging deve incluir cópia do certificado de Rigger, além da ART. Naturalmente, um técnico ou engenheiro qualificado para essa atividade”, acrescenta Leonardo Scalabrini.

É, aliás, o que está estabelecido na Norma Regulamentadora (NR12), quando cita o plano de cargas, ao exigir que o profissional “Rigger” , responsável pelo planejamento e elaboração do plano de movimentação de cargas, seja capacitado. O problema é que não delineia os contornos dessa capacitação. “Essa capacitação é realizada por centros de treinamentos especializados no assunto. É recomendado que o profissional possua certificação que comprove a competência, através de uma avaliação dada por um organismo de certificação reconhecido”, diz Wildes Larcher Neto.

Qual o suporte os fabricantes podem dar?

“Oferecemos suporte através de nossa engenharia com cálculos de pressão no solo e velocidades máximas de vento permitidas para um determinado içamento e, além disso, softwares especializados para apoiar na elaboração do Plano de Rigging”, explica Alexandre Vaccari. “Treinamentos específicos para capacitação na utilização dos softwares também são muito importantes”, diz Camilo Filho.

Para Leonardo Scalabrini, “os fabricantes de guindastes poderiam disponibilizar as tabelas completas dos guindastes (tabelas técnicas), bem como acesso aos softwares de cálculos das cargas exercidas pelas patolas. Quanto à assistência de campo e treinamentos específicos, diz ele, existem empresas especialistas de Engenharia de Rigging que atendem bem esta demanda nacionalmente.

Diego Silva diz que, em geral, o que acontece é uma explicação mais geral dos softwares durante a entrega técnica do equipamento. Um conhecimento mais aprofundado, segundo ele, só virá efetivamente quando o usuário, por si próprio, desenvolver as variáveis envolvidas.”

Quais os principais softwares utilizados?

Segundo Camilo Filho, para a elaboração do Plano de Rigging, existem alguns softwares internacionais e até nacionais, mas o básico é o emprego do Autocad na elaboração dos desenhos. “Complementando as informações dos parâmetros operacionais, temos os softwares específicos dos fabricantes dos guindastes, que fornecem os dados de forma exata das condições operacionais dos equipamentos, tais como, pressão nas patolas/esteiras, velocidade admissível de vento, A2B e onde podem ser verificados os limites de segurança do equipamento”.

“É essencial utilizar um software CAD (abreviatura em inglês para a expressão: computer-aided design, que, em português, é traduzido para Desenho Assistido por Computador)”, explica Leonardo Scalabrini. E outros softwares específicos para auxílio na elaboração de Planos de Rigging que atuam em conjunto com o CAD. O único software brasileiro, segundo ele, é o CranePRO®, desenvolvido pela Crane Engenharia. Também há o Cranimax (Alemanha) e o 3dliftplan (EUA).

“Temos realmente softwares dedicados como CranePRO® e outros softwares estrangeiros que tem sua linguagem computacional modificada para o desenvolvimento de planos de rigging”, diz Diego Silva. O problema é o alto custo da licença do Auto Cad (que conta com versão para Rigger). Outra limitação, segundo ele, é que muitos bons softwares estão atrelados à compra de equipamentos de uma determinada marca. “O que recomendo é o Autocad, para desenvolver o plano de forma mais clara, o Solid Works, para simular os esforços nas estruturas e demais dispositivos, e o Exel, que ajuda e muito nos cálculos necessários”.

(*) Camilo Filho (especialista em içamentos pesados e consultor da IPS Engenharia de Rigging) ,